Total de visualizações de página

terça-feira, 24 de agosto de 2010

POR QUE PARTIR?
"Navegar é preciso. Viver não é preciso".
(Fernando Pessoa)

O navio está no porto.
Parado. Esperando a hora.
Exata da partida. Está ali.
Com suprimentos de neblina.
Agoniado por atravessar o oceano.

Por quê? Por que partir?
Sem resposta; alto-mar.
Este é o dia e a noite.
Quem sou? Não importa.
Marinheiro ou náufrago!

Pensemos agora no navio.
No porto, atracado, sonhando mares.
Esperando que a alma.
Se encontre com o corpo.
O sopro com a saliva.

O ouvido com o dizer.
A velocidade com o objeto.
Enfim. Há muita ânsia.
Passos lentos e finitos.
O encontro é inevitável:

Como a "Ode Marítima"
De Fernando Pessoa.
Como "Vou-me embora Pra Pasárgada",
De Manoel Bandeira.
E tudo o que sustenta o imaginável.

(Poesia Sempre, 2005)

sábado, 21 de agosto de 2010

QUERO-QUERO

Descamba chuva quero-quero está.

Alimenta-se do que retira
do potreiro molhado.

Canto forte,
protetor
noturno,
serração.

Pássaro vizinho
de voo rápido
embeleza a paisagem
junto ao gado.

Quero-quero
voa e grita,
protegendo o seu ninho.

(Poesia do livro Relevo Azul, 1998)

sábado, 14 de agosto de 2010

PEQUENOS POEMAS DO LIVRO POESIA SEMPRE (2005)

MOVIMENTO

Troca-se o vento da casa
pelo vento do pulmão,
o vento do espaço
pelo vento do chão.

SAUDADE

Mãos, que rolam a massa,
Pela mesa que balança.
Mãos, mãos que a farinha mistura e lança,
Branca, vaporosa, úmida e assa.

UTOPIA

Neste mundo de utopias
Tu sorrias
E eu fazia parte de teu
Sorrir...

PONTO

O ponto de encontro
é onde a figueira
atravessa a estrada.

O ponto de encontro
é onde na segunda-feira
o rio amanhece sussurrante.

O ponto de encontro
é onde o pingo da chuva
transpassa a gravidade da luz.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

SENHORA IDOSA
(A minha avó Inez Rigotti da Rosa)

Com um pedaço de galho na mão
ela firma seu corpo,
sobe este morrinho com passos vagarosos,
a estrada é esburacada,
vai arrastando seu chinelo...

Às vezes, a vejo reclamar de tudo,
das pessoas que não zelam
pelo seu patrimônio
vendo aos poucos...
seu sonho de moça italiana
se dissipar feito fumaça.

O forno caiu...
a casa com goteira...
sua vaca holandesa magra...
e seu potreiro tomado de mato,
essas pequenas coisas fizeram parte
de sua vida inteira.

Com seu vestido estampado branco,
ela estava na porta da sala,
com os olhos cheios d'àgua,
vendo o horizonte e a planície costeira...

Na verdade, ela estava vendo
sua vida inteira...
o ventinho balançava
seus cabelos brancos.

(Poema do livro Relevo Azul)

sábado, 7 de agosto de 2010

SORRISO

Ame a si mesmo.
Ame as outras pessoas.
Creia em Deus.
Acredite no seu potencial.
Ninguém é melhor que você.
A vitória, muitas vezes, vem da sorte.
Sonhe com teu sucesso.
Solte teu corpo e tua mente.
Você vai vencer.
Libere sua imaginação.
Desprenda-se, a vitória começa agora.
Conquiste as pessoas.
Sorria, erga a cabeça.
Demonstre que você está neste mundo
para lutar pelos seus ideais.
E que teu jogo é limpo, verdadeiro e honesto.
Sejas espontâneo, decidido e convicto.
Transforme a sua trilha num caminho alegre.
Naturalmente, apresente-se ser humano
dentro e fora de ti mesmo.

(Poema do livro Poesia Sempre, 2005)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

POESIA PARA TAIENE

Uma poesia para Taiene
nem é preciso que amanheça o dia,
na noite dormindo
o seu rosto sonolento
é plena alegria.

É preciso vinte e quatro horas
para falar de sua energia,
sempre com sua boneca
em todo lugar
é uma criança muito esperta.

Tem quatro anos de idade
esta amável menina.
Como é bom vê-la sorrir,
flor de bondade
alma divina.

(Poema do livro Em Busca da Essência)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

POR QUE VOLTAR?

Para reacender, reencontrar,
Por não resistir à saudade?
Para retornar a rever antigos prados.
Retornar, restituir fluídas esperanças.

Para comparar o antes e o depois.
Para que o perdão seja aceito.
Para conversar com teus olhos,
[brincar com teus lábios,
[rejuvenescer em teus abraços.

Voltar para continuar.
Oh, Deus! Como é difícil partir e perder!
A vida pode passar sem sorrisos.

Como a literatura sempre volta
A Aristóteles e a Platão,
Também volto.

Preciso encontrar a palavra,
A frase simples, a oração inocente,
A chave. Um pouso no teu coração.

Voltar para realizar os sonhos de adolescente.
Para reencontrar o caminho
E seguir em frente.

(Poema do livro Poesia Sempre - 2005)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

PEDRA DE AREIA
(Ao escultor Cristiano da Rosa Pereira)

A pedra de areia
movimentada em ventos.
Na pedra há veias
nas mãos do escultor!
A figura pensada
nos milhões de cristais
rodopiam no ar
da reciclagem da forma.
De quebrar casca
do nobre arenito
é que o pássaro voa,
condensa, petrifica o grito.

Brutas obras caladas,
busto de Cristo de barba,
do Boi carreiro,
a Vaca magra,
a Carranca Inca,
Índia Iracema,
Filhos do Sol,
"As ondas da lavas
vêm dar relevo
o quê cria
ao que põe medo".

Escultor e obra
desbravam um mundo,
desferindo golpes,
habitando o solo.
O martelo e o ponção
talhando à noite
em ferimentos seus
pleft, pleft, pleft...
"Rimando o dia
formando outros gritos
descobrindo trilhas
que se perdem no vôo".

(Poema do livro Em Busca da Essência - 2005)